sábado, 3 de maio de 2025

Desvalorização na base: evasão de servidores da PF acende sinal de alerta

  


A recente aprovação de aproximadamente 40 policiais federais — entre agentes, escrivães e papiloscopistas — no concurso para Auditor-Fiscal do Trabalho, seguida de seus desligamentos da Polícia Federal, revela mais do que uma tendência de mobilidade funcional: expõe um sinal vermelho sobre a forma como a base da carreira policial federal vem sendo negligenciada ao longo dos anos.

A ANEPF parabeniza os colegas pela conquista pessoal — legítima e fruto de dedicação. Mas é necessário ir além da celebração individual: o êxodo de servidores qualificados, ainda no início da carreira, deve ser tratado como um problema estrutural que compromete a eficiência do serviço público e a sustentabilidade institucional da PF.

A formação de um policial federal envolve elevado investimento público: são meses de curso de formação, treinamentos operacionais, capacitações técnicas e tecnológicas na Academia Nacional de Polícia, além de seleção rigorosa e acompanhamento contínuo. Quando esses profissionais abandonam a carreira por falta de reconhecimento, o prejuízo não é apenas orçamentário — é funcional e estratégico.

Entre os fatores que alimentam essa evasão, destacam-se:

  • Ausência de um plano de carreira estruturado e transparente, que valorize o crescimento por mérito e dedicação;

  • Falta de critérios meritocráticos nas promoções e nas nomeações para chefias, missões no exterior e funções estratégicas;

  • Baixa qualidade de vida no trabalho (QVT), marcada por sobrecarga, centralização excessiva de decisões e falta de ambiente colaborativo;

  • Desvalorização previdenciária, especialmente após a Reforma da Previdência (EC 103/2019), que esvaziou direitos históricos da atividade policial;

  • Descompasso entre a complexidade das atribuições e o reconhecimento funcional, com falta de incentivos e de projeção de futuro;

  • Ausência de respaldo jurídico e institucional para o exercício da atividade investigativa, com insegurança diante de riscos e decisões sensíveis.

No caso específico dos Escrivães de Polícia Federal (EPFs), a situação é ainda mais preocupante. Esses profissionais desempenham funções altamente técnicas e estratégicas — como a formalização de provas, a análise jurídico-processual de procedimentos, o zelo pela cadeia de custódia e a articulação documental junto ao sistema de justiça —, mas ainda enfrentam um estigma funcional que os associa a um passado cartorial já superado. Hoje, não há mais papel, nem cartório, mas ainda há quem enxergue o cargo com as lentes do século passado.

É por isso que a transformação do cargo de EPF é urgente e inadiável. Atualizar a nomenclatura, rever atribuições, garantir formação operacional equivalente aos demais cargos da base e instituir uma carreira moderna, tecnológica e compatível com a realidade da investigação contemporânea são medidas essenciais — não apenas para a valorização da categoria, mas para o fortalecimento institucional da Polícia Federal.

A ANEPF seguirá atuando de forma firme, técnica e propositiva, em defesa de um cargo que seja necessário, reconhecido e valorizado. Se nada for feito, a evasão de talentos continuará, e com ela se esvai a energia de renovação que a Polícia Federal tanto precisa.

21 comentários:

  1. Complicado, falta de valorização principalmente na retribuição por funções desconfiança. Na PF quem traba muito ganha a mesma coisa que quem faz o B.A.B.A. Nada contra quem faz o básico, mas não retribuir dignamente quem faz a diferença é injusto e desmotivante.

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    1. Excelente. É o que sempre digo inclusive: carecemos de uma reforma administrativa justa e técnica, que trate de forma desigual os desiguais, mas que, acima de tudo, seja pautada pela busca de eficiência nas instituições e, para tanto, erija critérios de valorização do mérito efetivo e continuado ao longo da carreira. É necessário não focar em funções de confiança, já que exíguas, mas sim nas atribuições intrínsecas aos cargos...

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  2. A PF, nesta nova era, já era!

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  3. O correto seria unificar os cargos de escrivão e agente. E criar uma nomenclatura igual do FBI, tipo Agentes especiais ou Agentes Federais ( é o comum e utilizado até mesmo pela nossa mídia para se referir aos federais), porém discordo da nomenclatura oficial de polícia federal, isso deixa o cargo genérico. Por isso, sou a favor do nome " AGENTES FEDERAIS" na unificação. Há outros cargos na administração pública com nome de "oficial", fazer isso com os cargos da PF, seria uma generalização absurda com uns dos cargos mais importante do orgão, todos sabemos que a massa da PF é formada por agentes e escrivão.

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    1. Detalhe é que muitos escrivães tem medo e não quererem nem pensar na possibilidade de irem para a rua, fazer uma vigilância , por exemplo. São doutrinados na ANP para ficarem trancados em cartório.

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  4. Anepf está propagando fake News. O curso de formação de AFT nem foi finalizado. Impossível terem pedido exoneração. Fizeram o título bem sensacionalista.

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  5. Além de fazer um título falso para ser click bait, criaram uma imagem falsa por IA. É bem absurdo isso.

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  6. Na minha concepção, entidade representativa para os cargos de APF, EPF, PPF deveria seu única, sindicatos em cada Estado e Fenapef em nível nacional. Sou EPF aposentado há 17 anos e essa entidade não me representa. Tenho nojo do divisionismo e luta de classe imposta pelos delegados dentro da Instituição
    É o que mais prejudicou o DPF.

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  7. A quem interessa esses comentários que estão contra essa matéria necessária da ANEPF que é super verídica, talvez porque já esteja no final de carreira no topo salarial e não esteja se importando com os novos da firma, na verdade a grande maioria concordou com o aumento em detrimento dos novinhos, então não tem autoridade para reclamar quando um novo de forma sair.

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  8. A PF sempre foi assim: Delegados que fogem do Inquérito como o diabo foge da cruz; Peritos correndo dos Laudos; Escrivão que odeiam ser Escrivães e têm horror ao cartório; Papiloscopista que fogem da papiloscopia; Administrativos achando que deveriam ser os gestores da PF; e TODOS querendo ser AGENTES, mas nunca tiveram coragem de enfrentar as operações de rua. Tem como dar certo?

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  9. Eu sou escrivão, estudo todos os dias para sair, minha motivação é nunca mais trabalhar como secretária.

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  10. Nada de unificar policial de gabinete com os verdadeiros policiais.

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  11. VAI PIORAR...PQ EM 1998 ...OS EPAS..Tinha o salario inicial de 3000 dolares....e agora ..o salario de um EPA especail..apos 27 anos..ganho 2500 dolares. ....QUE. VERGONHA

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  12. Do que adianta um alto investimento público se não uma seleção rigorosa nos testes psicológicos? O que vemos são novos policiais despreparados chegando em Delegacias, Qual a eficiência do investimento?
    O despreparo de colegas para uma operação, uma vigilância… além de alguns delegados egocêntricos que perseguem os que não se alinham às suas “expectativas”… Mas claro temos os “babões” que concordam com tudo, para conseguirem uma viatura para ir e voltar para casa.
    Em relação a falta de um plano de carreira e dos míseros aumentos esporádicos que recebemos, obviamente isso contribui para uma insatisfação generalizada.
    Agora vamos comentar sobre as inúmeras licenças psiquiátricas que estão sendo concedidas a colegas e a aparição mágica de uma assistente social somente quando o problema já eclodiu. A farsa do programa Rosa dos Ventos que só foi criado para fins midiáticos; afinal a imagem pública da Polícia Federal é bem mais importante do que resolver problemas internos reais.
    Nem vamos mencionar as delegacias localizadas em pontos estratégicos e totalmente esquecidas, com Brasília sendo priorizada na alocação de recursos financeiros, enquanto há colegas trabalhando em situações precárias.

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  13. A PF hoje é essencialmente um polícia ideológica. Houve quantas grandes Operações nos últimos 2 anos? ZERO! Perseguir e investigar opositores é o que dá grande e rapida possibilidade de ascensão funcional ao Deltas.

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  14. Se está assim com a PF, imagina nas PC’s. Verdadeira lástima. Quem venha o caos!!!!

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  15. Sou EPF e como disse a colega acima, estudo todos os dias para sair. Secretariado não dá...

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  16. Vamos ser sinceros e falar o que deve ser dito!
    A Polícia Federal já foi a melhor Polícia da América do Sul e Central, Quando todos os policiais eram Policiais.
    Quando os delegados se colocaram fora da “turba” e se juntaram aos deuses do Olimpo, deixaram de lutar por melhores condições de trabalho para todos, e passaram a lutar apenas pelo seus salários, e por pura maldade ou inveja solapavam as pretenções dos EPAS de conseguirem salários próximo aos deles, por acharem que os mesmos eram indignos de receberem salários tão próximo ao do delegado “novinho”.
    Mas não nos esqueçamos que os Peritos nunca foram policiais federais de verdade, a maior qualidade de um perito é de ficar fora de qualquer disputa entre o nível médio e o nível “superior” afinal ele vão sempre a reboque dos delegados. E a segunda a maior qualidade é de serem medrosos, “cagões”, e não cautelosos.nunca ouvi falar de um perito que desse voz de prisão para quem quer que fosse.
    Eu já trabalhei na PF que era respeitada, por seus méritos, pela sua intrepidez, e não nessa polícia de estado, “ Geheime Staatspolizei”

    "gestapo do Xandão”.
    Conheço colegas que se aposentaram e por vergonha, nunca puseram o pé novamente no prédio da PF, e eu, se Deus me permitir nunca mais o farei.

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